Sessões Livres – SLs
Co-produção social da cidade e da ciência: um olhar sobre práticas colaborativas de laboratórios de pesquisa.
ORGANIZADORES: João Sette Whitaker Ferreira, Francisco Comaru, Joel Felipe, Rafael Gonçalves e Elise Duclos
Esta sessão livre tem como tema central a co-produção urbana como prática de inclusão cidadã em projetos e planejamento participativo em territórios urbanos populares. A abordagem envolve a sociedade civil, universidades e profissionais em ações coletivas e interinstitucionais, que buscam influenciar nas decisões públicas e reduzir desigualdades socioespaciais. A sessão tem como objetivo explorar o potencial da co-produção para adaptação de intervenções urbanas a questões socioambientais emergentes e deficitárias, em busca da redução de vulnerabilidades e construção de práticas urbanas democráticas. Serão analisados casos específicos de estudo no Brasil e na França, avaliando as contribuições das abordagens colaborativas em diferentes contextos sociais, econômicos, políticos e institucionais. Os temas a serem debatidos incluem a gênese e condições de desenvolvimento de colaboração entre a sociedade civil e agentes facilitadores, as relações entre contextos político-institucionais e configurações de práticas colaborativas organizacionais, além da organização e circulação de conhecimento no âmbito dessas colaborações. A sessão terá como resultado esperado a sistematização de configurações organizacionais e ferramentas de cooperação social para a co-produção social da cidade, assim como a difusão científica dessa reflexão.Conflitos e violências nos territórios populares: Mercantilização, gestão de precariedades e desafios para o engajamento político
ORGANIZADORES: Isadora de Andrade Guerreiro, Gustavo Francisco Teixeira Prieto, Carolina Christoph Grillo e Valéria Pinheiro e Vera Telles
A sessão livre busca analisar as dinâmicas de reestruturação territorial nos territórios populares, que incluem deslocamentos, reassentamentos e novas formas de produção e gestão. O objetivo é entender como diferentes tipos de violência atravessam esses territórios e são elementos centrais nos processos de despossessão e violação de direitos, além de serem mediadores na constituição da normatização dos assentamentos populares. A proposta destaca a importância de identificar as várias violências inter-relacionadas, incluindo as urbana, institucional/estatal, financeira, imobiliária, racial, de gênero e interseccional. Um aspecto importante dessa gestão é a mobilização do espaço construído como estratégia de controle territorial para o controle de mercados delinquenciais, bem como uma nova fonte de extração de renda e aplicação de excedentes de capital locais. Isso implica em observar como ocorre a crescente mercantilização da terra e do imobiliário, possibilitada pela consolidação dos territórios populares nos centros e periferias urbanas. Tal mercantilização é estimulada tanto por políticas de Estado quanto pelas transformações dos mercados ilegais, gerando novos mercados políticos. A proposta destaca ainda que não apenas o acesso à moradia é permeado por essa disputa na gestão privada do território, mas a insegurança habitacional e as situações de transitoriedade permanente são mantidas e estimuladas através dessa disputa. Os processos de despossessão, como a perda da moradia, são cada vez mais operados pelos sistemas privados, como milícias e facções. Além disso, a crescente mercantilização desses territórios envolve também sua inclusão no mundo das finanças, e informalidade que estabelece vínculos com o mercado corporativo, inclusive dos mercados de capitais. O que reforça a submissão a regimes locais de monopólio da violência, gerando instabilidade e insegurança nesses territórios.Cultura, turismo e planejamento urbano e regional: políticas públicas e as associações entre cultura, turismo e esporte/lazer
ORGANIZADORES: Silvio José de Lima Figueiredo, Elis de Araújo Miranda, Ludmila Gonçalves da Matta e Mirleide Chaar Bahia
A Sessão "Cultura, Turismo e Planejamento Urbano e Regional" realizada nos encontros da ANPUR em Belém (2007); Florianópolis (2009), Rio de Janeiro (2011), Recife (2013) e Natal (2019), teve por objetivo discutir a relação das práticas turísticas e culturais com as estratégias de planejamento e gestão ligadas às políticas públicas e ao desenvolvimento urbano e regional. Propõe-se políticas públicas em áreas que se encontram associadas em espaços com gestão estadual ou municipal, para além das políticas nacionais. Os campos do turismo, do lazer e da cultura se inter-relacionam, com viés de planejamento e políticas públicas mais ligados ao mercado pelo turismo e lazer e mais ligados à prática social na cultura. A inclusão da cultura como projeto político enfrenta os desafios da pluralidade de um país que se formou com base na diversidade. A Carta Magna promulgada em 1988 tornou-se marco de políticas públicas setoriais na abertura política. Na Constituição, a liberdade torna-se um preceito sobre o qual se assegura ao indivíduo seu desenvolvimento, tendo uma concepção descritiva de cultura, em sua interpretação simbólica de singularidade dos grupos sociais que interagem com elementos essenciais para a pluralidade das manifestações e o reconhecimento de diferentes identidades. Os proponentes de sessão debaterão sobre políticas públicas que orientam suas pesquisas, bem como as especificidades de cada uma das áreas associadas e por fim, buscará uma proposição de integração desses três campos a fim de orientar gestores municipais e estaduais em seus contextos geográficos de atuação profissional e de ensino-pesquisa-extensão.Discussão sobre cidades latino-americanas: as experiências de ações socioterritoriais como possibilidades de tensionamento ao projeto neoliberal em curso
ORGANIZADORES: Fabiana Felix do Amaral e Silva, German Andrés Cortés Millán, Juan Sebastián Urzúa Pineda e Bianca Siqueira Martins Domingos
Esta sessão livre visa contribuir para o debate sobre planejamento urbano e ciências sociais aplicadas na realidade latino-americana. Ela se concentra na intensificação dos fluxos de capital e processos de ocupação nas cidades latino-americanas nos séculos XX e XXI, que produziram novas espacialidades que revelam gentrificação, criminalização das lutas sociais e métodos desiguais de ocupação. A sessão tem como objetivo discutir experiências de outras territorialidades construídas por movimentos sociais e ações coletivas que articulam resistência, sobrevivência, confronto e proposta. Enquanto experiências oferecem novas possibilidades e estratégias para a produção e uso de espaços nas cidades latino-americanas, relacionadas a temas como soberania alimentar e agricultura urbana, economia solidária e tecnologias sociais, educação popular e redes de comunicação e cultura, e planejamento popular e comunitário. A sessão apresenta quatro palestras que abordam dimensões históricas, teóricas e metodológicas dos territórios em análise. A primeira palestra fornece uma visão geral da gestão neoliberal dos territórios nos três países em estudo (Brasil, Colômbia e Chile) e uma reflexão sobre as experiências dos movimentos socioterritoriais a partir da perspectiva de epistemologias decoloniais e metodologias participativas em São José dos Campos, Brasil, e na região. A segunda palestra analisa o direito à cidade a partir de uma perspectiva de consciência política das experiências socioterritoriais em Bucaramanga, Colômbia. A terceira palestra retrata e reflete sobre as tensões presentes na ocupação de espaços públicos por experiências de arte e cultura em Concepción, Chile. A quarta palestra apresenta reflexões sobre o uso de metodologias participativas para compreender intervenções de arte visual urbana no Vale do Paraíba e na Região Metropolitana do Litoral Norte, São Paulo, Brasil.Do antídoto ao veneno: estariam os espaços públicos destituídos dos sentidos plurais da linguagem, da sociabilidade e das várias dimensões da urbanidade?
ORGANIZADORES: Fernando Pinho, Maria Stella Bresciani, Suelen Simião, Stephanie Assaf e Robert Pechman
Esta sessão livre tem como objetivo explorar as múltiplas e complexas definições da palavra "cidade", focando na sua percepção como um lugar sustentado por relacionamentos humanos. A sessão enfatiza as dimensões públicas da vida urbana, considerando a capacidade da cidade de acomodar diferentes sujeitos em suas interações e sociabilidade. A discussão se baseia no trabalho da filósofa Hannah Arendt, que examina o conceito grego antigo da polis como a entidade política mais visível e o berço da filosofia política que separava ação e fala. Na cidade-estado grega, havia uma separação decisiva entre a esfera pública, a polis, e a esfera privada, a casa. A apresentação discute os usos plurais dos espaços públicos e sua importância na vida urbana contemporânea. Também considera os efeitos negativos da dominação de agendas econômicas nos domínios público e privado da cidade, que afetam as intervenções urbanas e a arquitetura. A sessão apresentará exemplos de como os espaços públicos podem ser apropriados para a sociabilidade, a ação política e os interesses comuns, bem como exemplos dos efeitos negativos da dominação de agendas econômicas na cidade.Em torno da palavra práticas de pesquisa & didáticas em estudos urbanos
ORGANIZADORES: Elane Peixoto, Ana Clara Giannecchini, Leandro Cruz, Mário Luis Magalhães e Adriana Caula de Mattos e Silva
Esta sessão livre discute práticas de pesquisa, didáticas e pedagógicas que giram em torno de palavras. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade de Santa Úrsula (USU) apresentam suas experiências com palavras como gatilhos para o diálogo, com uma multiplicidade de ramificações e sugerindo a imagem do rizoma de Deleuze. A sessão gira em torno de três palavras: patrimônio, glossário contemporâneo e design, todas importantes no campo dos estudos urbanos e do discurso interdisciplinar. A seleção dessas palavras é inspirada no livro "L'aventure des mots de la ville à travers le temps, les langues, les sociétés", que explora a estabilidade e a instabilidade das palavras através dos oceanos, línguas e tempo. Os proponentes têm como objetivo mostrar como cada pesquisador trabalha com palavras em suas práticas de pesquisa e sala de aula. A abordagem não se limita ao campo de trabalho, como evidenciado por estudos literários como "Les 100 mots du Moyen ge", que examina a atmosfera do período medieval através de suas palavras. A sessão espera destacar o potencial infinito de investigar os valores sociais e culturais carregados pelas palavras e como elas moldam a linguagem e o discurso.Estudos sobre urbanização e rede urbana na primeira metade do século XIX
ORGANIZADORES: Fania Fridman, Sarah Feldman, Tiago Cargnin Gonçalves, Eneida Maria Souza Mendonça e Lucia Helena Pereira da Silva
O tema central desta sessão livre é repensar a relação entre o projeto de povoamento e a ocupação do território no Brasil durante a primeira metade do século XIX, considerando as características da urbanização e das redes urbanas em diferentes províncias brasileiras. O período em questão foi marcado pelo processo de independência, por movimentos de contestação e pela invenção de um país, e a formação de uma nova sociedade e território foi realizada através de procedimentos de reorganização territorial e ampliação do quadro urbano. A sessão livre apresenta cinco estudos que utilizam dados quantitativos e qualitativos referentes a vilas, cidades, freguesias, comarcas e outros assentamentos rurais para traçar uma "cartografia em prosa" da época em que foram montadas as bases para a modernização capitalista do país. A reflexão interdisciplinar incorpora a atuação dos sujeitos sociais heterogêneos em apoio ou no confronto aos padrões de ocupação/urbanização/regionalização com seus preceitos legais e formato político. Os estudos examinam as províncias de São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro e Espírito Santo e ressaltam os mecanismos de elaboração e de controle das áreas.Fragmentação socioespacial e urbanização brasileira: Escalas, vetores, ritmos, formas e conteúdos
ORGANIZADORES: Maria Encarnação Beltrão Sposito, Vitor Koiti Miyazaki, Rafael Roxo dos Santos e Everaldo Santos Melazzo
A fragmentação socioespacial é um processo que caracteriza a ruptura entre partes da cidade, em termos sociais, econômicos e políticos. Este termo começou a aparecer nos estudos urbanos no final dos anos 1980, principalmente no Brasil, em que Santos (1990) caracterizou São Paulo como uma metrópole corporativa e fragmentada. A fragmentação socioespacial é constituída a partir de polarizações socioespaciais acentuadas, que podem ocorrer quando indivíduos portadores de identidade comum se agrupam em espaços apropriados exclusivamente, como os espaços residenciais fechados e controlados por sistemas de segurança ou grandes espaços de consumo e lazer privados. A produção desses espaços exclusivos está associada a uma relativa indiferença dos sujeitos que deles se apropriam em relação a outros espaços da cidade e a certos segmentos sociais, decorrente do distanciamento em relação à ideia de cidade como espaço de integração e globalidade. Esse processo de fragmentação socioespacial pode ser visto em três direções: pelo papel das políticas públicas e dos novos modos de governança das metrópoles continentais, pelas transformações associadas à globalização e às novas estratégias do management empresarial e pela relação, muitas vezes contraditória, entre mudança social e evoluções da estrutura urbana. A sessão livre se concentra nesta terceira direção, mas considera a indissociabilidade entre as três. A cidade fragmentada em construção resulta das novas formas de impacto da acumulação flexível e é caracterizada pela perda da hegemonia do centro, pela importância dos produtores imobiliários e pelo aparecimento de enclaves socialmente dissonantes no seio de tecidos com certa homogeneidade morfossocial, havendo contiguidade sem continuidade.Gênero e Orientação Sexual sob a perspectiva das Bases de Dados Populacionais: Discutindo limitações, possibilidades e articulações socioterritoriais
ORGANIZADORES: Rafael Chaves Vasconcelos Barreto, João Gabriel Malaguti, Joana Simões de Melo Costa, Joice de Souza Soares e Cibele Cheron
Esta sessão livre tem como tema central a manifestação territorial de diversidades de povos, culturas e identidades, com foco na invisibilidade de pessoas LGBTI+ e fragilidades de mulheres no espaço urbano. A sessão busca analisar a subalternização de minorias sexuais nas bases de dados populacionais e apresentar dados sobre violência de gênero e desigualdade de renda que mulheres sofrem. A primeira parte da sessão se concentra na abordagem das minorias sexuais e sua invisibilidade nas bases de dados, mostrando o panorama do uso da variável orientação sexual e identidade de gênero em pesquisas nacionais em países que já implementaram tais variáveis. A segunda parte analisa a desigualdade de gênero, com destaque para a violência de gênero e desigualdade de renda pelas quais mulheres sofrem, apresentando dados sobre o feminicídio no Brasil e um estudo de caso relacionado à precarização do trabalho de mulheres no espaço urbano. A sessão busca levar os participantes a refletir sobre a importância de incluir as diversas identidades e diversidades no espaço urbano, territorializando-o e auxiliando na reflexão sobre esse espaço enquanto local de disputa e conflitos.