Sessões Livres – SLs

  • Sobrevivendo no inferno da violência da urbanização: crime, colapso e as novas fronteiras da produção do espaço contemporâneo

    ORGANIZADORES: Gustavo Francisco Teixeira Prieto, Thiago Canettieri, Priscila Coli Rocha, Juliana Nazaré Luquez Viana e Taís Freire de Andrade Clark

    Esta sessão livre propõe uma reflexão sobre as relações entre a violência da urbanização, crime e as novas fronteiras da produção do espaço em colapso. O objetivo é analisar a espacialidade violenta como prática da urbanização capitalista e o colapso contemporâneo do urbano frente aos processos de militarização, milicianização e expansão das facções criminosas na produção e gestão das metrópoles. Os pesquisadores buscam contribuir para o questionamento de um certo consenso sobre as formas de violência no processo de urbanização, que muitas vezes é atribuído à ausência ou ineficácia da segurança pública. As pesquisas mostram a existência de uma profunda relação entre as lógicas ilícitas da criminalidade e da sociabilidade violenta e o funcionamento da segurança pública e sobretudo da presença do Estado. A dinâmica dialética da presença-ausência do Estado em suas margens é analisada, é onde as práticas socioespaciais da violência e da segurança se manifestam de maneira mais evidente. As diferentes pesquisas que serão apresentadas nessa sessão livre apontam para a convergência de lógicas violentas na produção do espaço urbano e metropolitano contemporâneo, que reproduzem barreiras socioeconômicas e segregação espacial. O objetivo é analisar a nova gramática da sobrevivência em favelas e periferias que estão submetidas a arregos, extorsões, burocracia miliciana e criminal, enredando tais práticas com a circulação de dinheiro, nova morfologia do trabalho e a desigual geometria do poder na sociedade.
  • Tecnologia no território: atores, agendas e estratégias

    ORGANIZADORES: Lalita Kraus, Adalberto Antonio da Mota Correia, Aldenilson Vitorino dos Santos Costa, Ana Cristina Fernandes e Fabio Costa

    Esta sessão livre trata da relação entre as tecnologias de informação e comunicação e o território, e como essa relação se manifesta a partir das ações de diferentes agentes com suas próprias agendas e estratégias. O território é composto por informações que são potencializadas pelo uso de tecnologias informáticas, o que tem levado a uma grande troca de informações e produção de dados. Isso tem resultado em uma exploração mercadológica cada vez maior de informações extraídas de plataformas digitais. A cidade torna-se um local privilegiado de controle espacial por parte dos agentes privados e do governo. A adesão ao mainstream tecnológico é a-crítica e inspirada em experiências em que a tecnologia, ao ser aplicada à gestão, supostamente traria benefícios aos cidadãos e à oferta de serviços públicos. A implementação de dispositivos tecnológicos, estratégias de digitalização dos serviços públicos, e serviços urbanos tecnologicamente mediados, como mobilidade compartilhada e carros autônomos, está moldando as políticas e transformando a lógica da gestão pública. A cidade, cada vez mais tecnologicamente mediada, produz, integra e analisa um grande volume de dados, transformando a lógica da gestão pública e a produção do espaço urbano. No entanto, há preocupações crescentes com os efeitos sociais e agenciamentos da dinâmica urbano-tecnológica, destacando a relação existente entre ideologias neoliberais e governança tecnocêntrica, a pauta corporativa por trás de soluções inteligentes, e os custos sociais da tecnologia em termos de vigilância, discriminação e controle algorítmico e precarização do trabalho.
  • Tecnopolíticas urbanas

    ORGANIZADORES: Aldenilson Costa, Deborah Werner, Igor dalla Vecchia, Rodrigo José Firmino e Flávio Carvalho

    A incorporação da pauta tecnológica na política urbana está orientada por interesses nem sempre transparentes. Trata-se, pois, de tecnopolíticas, formadas por interesses conflitantes e de um ideal de tecnologia que, na aparência é neutra e desprovida de interesses, mas que na prática, reproduz tensionamentos, disputas e desigualdades socioterritoriais urbanas. De um lado, empresas de tecnologia constrangem gestores públicos oferecendo soluções aos problemas urbanos. De outro, a adesão ao solucionismo tecnológico ocorre de forma acrítica, submetendo as cidades aos ditames do novo urbanismo neoliberal. O processo ganha novas e complexas dimensões com a legitimação da narrativa tecnológica a partir de órgãos supranacionais que orientam a política urbana global, resultando na agenda de cidades inteligentes. Do lado contra-hegemônico, grupos sociais estão desenvolvendo estratégias para utilizar as tecnologias contrapondo-se ao projeto tecnológico solucionista, reconhecendo seu caráter político e seus efeitos e possibilidades. Dito isso, nossa proposta reconhece a configuração sociotécnica dos arranjos e dispositivos tecnológicos, incluindo os processos de produção do espaço urbano que são por eles desencadeados. Trata-se de compreender a tecnologia associada à dimensão política e urbana e os desdobramentos produzidos, inclusive por movimentos que se opõem à racionalidade técnica dominante, criando arranjos tecnopolíticos a partir da e para a sociedade.
  • Tendências do Desenvolvimento Regional: estudos transversais

    ORGANIZADORES: Juliana Bacelar de Araújo, Cassiano José Bezerra Marques Trovão, Maria Losangela Martins de Sousa e Rylanneive Leonardo Pontes Teixeira

    Esta sessão livre tem como objetivo analisar o desenvolvimento regional no Brasil no século XXI por meio de estudos transversais e multiescalares dos processos que influenciam o desenvolvimento econômico nacional, a fim de entender algumas tendências recentes importantes nessa área. A hipótese da proposta é que os processos de financeirização, desindustrialização, desconcentração produtiva regional e a recente pandemia de COVID-19 reforçaram o movimento de fragmentação econômica e territorial. A sessão analisará problemas de desenvolvimento regional e urbano, utilizando uma abordagem transversal que analisa serviços intensivos em conhecimento na Região Metropolitana de São Paulo, turismo sustentável na região do Araripe, no Ceará, a desconcentração industrial brasileira usando o caso de Pernambuco e o avanço da energia eólica, com foco no Rio Grande do Norte. A sessão é teoricamente baseada no conceito de "inflexão ultraliberal", que é suportado pela tríade da financeirização, desindustrialização e austeridade fiscal, e as ampliando as contradições criadas pela corrosão das infraestruturas econômicas e sociais e do sistema de solidariedade territorial. O cenário pós-2015 apresenta sérios desafios para a articulação complexa do espaço com o campo da governança política, econômica e socioambiental, onde problemas decorrentes do aumento da precariedade das condições de vida, falta de infraestrutura urbana e acesso a serviços básicos de saúde, segurança, educação, etc. somam-se à necessidade de pensar em formas de crescimento econômico sustentável, inclusivo e ambientalmente sustentável ancorado na utilização do potencial local e investimento produtivo, e na redução das desigualdades sociais.
  • Trabalho Social na Habitação: trajetória, resistências e afirmação do direito à cidade

    ORGANIZADORES: Rosangela Dias Oliveira da Paz, Sônia Regina Nozabielli e Joana Valente Santana

    Esta sessão livre tem como objetivo discutir a importância do trabalho social como componente da política habitacional, dentro do contexto de transformações urbanas e os impactos que ela tem na produção e reprodução da vida social. O contexto histórico e espacial das relações sociais que mediam as condições de existência do trabalho social na política habitacional é caracterizado pelo aprofundamento das desigualdades sociais, raciais e de gênero expressas através da pobreza, fome, desemprego, trabalho precário e informal, condições precárias de habitação, deslocamento, baixo acesso a serviços públicos, racismo estrutural, opressão de gênero, destruição ambiental, expulsão de trabalhadores rurais e povos indígenas de suas terras e criminalização de movimentos sociais que lutam por seus direitos. A crise da COVID-19, o desmantelamento das políticas públicas, a crise e ameaças à democracia brasileira têm intensificado as condições precárias de vida e o desfinanciamento das políticas sociais e urbanas, em proporção à brutal desigualdade social no Brasil. Os resultados das políticas urbanas e habitacionais implementadas no Brasil criaram cidades marcadas pela expansão das taxas de urbanização que transformam as formas de uso e ocupação da terra, avançando sobre a biodiversidade dos biomas brasileiros e transformando áreas naturais em formações urbanizadas precárias e desiguais, notadamente sobre o Cerrado e a Mata Atlântica, de acordo com dados do Mapbiomas entre 1985-2021. Nesse sentido, o trabalho social em políticas urbanas e habitacionais precisa ser compreendido na constituição das cidades brasileiras e em suas dinâmicas locais e regionais, na intersecção dos espaços urbanos, periurbanos e rurais, onde a disputa pela terra, a produção social do espaço e a impossibilidade de inclusão e acesso à cidade são centrais para o avanço do capital.
  • Transversalidades e articulações entre teoria e práxis: gestão de riscos e justiça territorial no planejamento e gestão dos territórios

    ORGANIZADORES: Francisco de Assis Comaru, Renata Ferraz Toledo, Samia Nascimento Sulaiman e Fernando Rocha Nogueira

    Esta sessão livre tem por objetivo refletir sobre a cooperação, coprodução de conhecimento e trabalho compartilhado entre a academia, atores da política e sociedade no planejamento urbano e territorial, especialmente relacionados à justiça territorial e gestão de riscos e desastres socioambientais. A sessão destaca a necessidade de pesquisar com os atores sociais, em vez de pesquisar sobre eles, para lidar com a complexidade desses campos de conhecimento e aborda o contexto atual de erosão dos direitos humanos, ataques à democracia e ciência, crises climática, sanitária e ambiental, bem como o desmonte das políticas sociais e a acirrada violência e conflitos territoriais. A mesa discutirá como os pesquisadores, acadêmicos e extensionistas podem superar os limites da ciência clássica por meio da combinação de métodos como extensão, pesquisa-ação, pesquisa-participante e educação popular. Além disso, a sessão explorará como combinar as lutas territoriais com a re significação de abordagens metodológicas em projetos de pesquisa, coprodução de conhecimento, sistematização, análise de dados e contexto, comunicação cívica e popularização da ciência e tecnologias. Por fim, a sessão buscará viabilizar uma reflexão sobre os métodos convencionais e emergentes de ações colaborativas e engajadas, a partir da interação entre a universidade e as comunidades vulneráveis, gestão de riscos, pesquisa e extensão, educação popular e ciência pós-normal.
  • Zonas cinzentas entre mercado, Estado e terceiro setor na agenda urbana e habitacional participativa: casos recentes no Brasil e Portugal

    ORGANIZADORES: Caio Santo Amore Cibele Rizek, Nuno André Vasconcelos Figueiredo Patricio e Ana Maria Ferreira Haddad

    Esta sessão livre tem como objetivo discutir a cooptação de agendas participativas urbanas e habitacionais, que posicionam a sociedade civil como protagonista nos processos de transformação urbana, como uma oportunidade de diálogo entre a pesquisa no Brasil e em Portugal. A agenda progressista surgiu nos anos 60/70, no contexto do Direito à Cidade, em que os movimentos sociais urbanos foram os protagonistas. A implementação do Orçamento Participativo (OP) foi o instrumento mais amplamente disseminado dessa agenda. A trajetória dos OPs revelou uma mudança em seu sentido político, de processos de organização coletiva para uma dimensão mais liberal. A trajetória exemplifica uma disputa mais ampla dentro da dinâmica da sociedade civil, na qual a presença de ONGs, posicionando-se como o "terceiro setor" entre o Estado e o Mercado, começa a erodir seus significados políticos e transformadores. No início dos anos 2000, no contexto do debate sobre a despolitização das entidades do terceiro setor, o termo "sociedade civil" se afastou dos movimentos sociais para se restringir às ONGs em suas várias formas institucionais. Em Portugal, a mesma tendência se materializou no campo das lutas pelo direito à cidade, moradia e participação nos processos de transformação urbana. O debate proposto concentra-se em políticas urbanas, particularmente iniciativas e práticas no campo da habitação popular, que são originalmente guiadas por consultoria técnica e onde o Brasil é uma referência no cenário internacional.