Sessões Livres – SLs
A estratégia autogestionária em Lefebvre: possibilidades de práticas socioespaciais emancipatórias
ORGANIZADORES: Geraldo Magela Costa, Rita Velloso, Roberto Luis Monte-Mór, Heloisa Costa e Harley Silva
Esta sessão livre tem como tema central a autogestão, a partir da perspectiva de Lefebvre. Segundo o autor, a autogestão ocorre quando um grupo social se recusa a aceitar passivamente suas condições de existência e se obriga a dominá-las. Essa definição ampla nos permite pensar na potência dos sujeitos relacionados a práticas e ações territoriais e urbanas para contribuírem com a criação de caminhos para a apropriação social do espaço urbano e a emancipação. Existem diversas publicações sobre experiências de autogestão no Brasil, especialmente em relação à produção de habitação de interesse social e outras, ligadas à economia popular e solidária, além de reflexões sobre o potencial do orçamento participativo. Lefebvre propõe que a autogestão seja estudada como meio de luta e como meio para reorganização da sociedade, transformando-a de baixo para cima. A prática social em marcha é a base para a fundação do conhecimento teórico, que pode mostrar alternativas transformadoras em teoria e prática no campo do planejamento urbano e regional. A proposta da sessão livre é explorar a potência transformadora da autogestão, buscando sua aproximação com a teoria e desenvolvendo reflexões teóricas sobre a consciência do possível e a utopia possível. As reflexões procuram identificar práticas autônomas e/ou heterônomas já observadas no Brasil, bem como explorar outras alternativas de apropriação social, como a criação de tecnologias.A noção de psicosfera como instrumento para análise do planejamento e desenvolvimento territorial
ORGANIZADORES: Luciano Duarte, Mait Bertollo, André Pasti, Heloísa Santos Molina Lopes e Wagner Nabarro
A proposta de sessão livre é baseada em um projeto de reflexão coletiva conduzido por pesquisadores com forte ligação com o método de Milton Santos. A ideia central é contribuir para a melhor definição da noção de psicosfera, integrando-a ao método geográfico. A psicosfera é entendida como um sistema de ideias, crenças, emoções e valores presentes no território, constituindo uma dimensão importante da produção de sentidos históricos, políticos e econômicos. Essa dimensão é fundamental para abordar a difusão do meio técnico-científico e informacional. A sessão livre busca destacar a psicosfera a partir de análises sobre as ações de planejamento e desenvolvimento territorial, tanto de espaços urbanos quanto rurais, assim como nas dinâmicas econômicas e nos embates políticos de projetos para a organização do espaço. Para isso, serão realizadas cinco discussões guiadas por pesquisadores de distintas instituições, que destacarão aspectos particulares de suas pesquisas mais recentes. As discussões abordarão os imaginários urbanos, representações socioespaciais e disputas de sentido no planejamento das cidades, a circulação de discursos corporativos dominantes nos circuitos produtivos e na economia urbana, a capilarização da informação nas cidades e no campo no Brasil, a ideologia da modernização e circuitos da economia agrária e a psicosfera em contextos de conflito territorial e socioambiental. A sessão livre busca aprofundar o entendimento da psicosfera e sua aplicação nas análises do planejamento urbano e do desenvolvimento territorial, bem como nas investigações geográficas e outros campos disciplinares.A produção do espaço urbano e regional na Amazônia
ORGANIZADORES: Eudes Leopoldo, Marcos Castro de Lima, Isaque dos Santos Sousa, Kelly Bessa e José Queiroz de Miranda Neto
Esta sessão livre tem como objetivo discutir a produção do espaço urbano e regional da região amazônica, que tem chamado a atenção mundial. Pesquisadores que vivem, trabalham e sonham na região são convidados a refletir sobre os desafios e impasses de dentro para fora, considerando suas experiências empíricas. A sessão busca contribuir para a constituição da Rede de Pesquisadores em Estudos Urbanos e Regionais da Amazônia (REURBAM), consolidando trocas de ideias e debates entre pesquisadores sobre as similaridades e diferenças do urbano, metropolitano e regional no trópico úmido. As discussões consideram a complexidade da dinâmica espacial na Amazônia, incluindo modos de vida na região, onde pares dialéticos aparentemente bem definidos ganham certa indefinição devido à sua mistura e hibridização. A sessão é dividida em três momentos: questões teóricas e metodológicas, estudos da região metropolitana de Manaus e estudos de caso de cidades do leste da Amazônia. O debate tem como objetivo contribuir para a compreensão da lógica contraditória e desigual da urbanização da região amazônica.A Questão Urbana nos Projetos em Disputa para uma Bioeconomia da Amazônia Contemporânea: (re)Configurações dos Territórios de Vida e Produção na Floresta Viva
ORGANIZADORES: Antonio Miguel Vieira Monteiro, Ana Cláudia Duarte Cardoso, Harley Silva e Danilo Araújo Fernandes
Esta sessão livre tem como objetivo conectar o tópico emergente da bioeconomia na Amazônia contemporânea com o debate sobre especificidades urbanas na região. Bertha Becker cunhou o termo "floresta urbanizada" na década de 1990, destacando a necessidade de desenvolver uma agenda urbana para abordar políticas socioambientais inclusivas e conservação para a região. No entanto, três décadas depois, uma agenda para o fenômeno permanece insuficientemente desenvolvida, com discussões fragmentadas de fóruns e agências nacionais e internacionais, prejudicando o planejamento territorial e estratégias de desenvolvimento econômico e social. A comunidade acadêmica enfrenta desafios em lidar com processos sociais e naturais nos trópicos úmidos, incluindo lutas para entender as interações abaixo do dossel da floresta e a diversidade de assentamentos humanos e arranjos socioterritoriais na Amazônia. A sessão proposta tem como objetivo explorar as possibilidades de um projeto de desenvolvimento regional utilizando a mediação urbana além das limitações das cidades, incorporando os conhecimentos e modos de produção das economias locais. Com a discussão atual da bioeconomia, esta sessão visa discutir as reais possibilidades de incorporação de conexões urbanas e regionais para um novo ciclo de desenvolvimento regional.Agricultura Urbana, associativismo e o bem viver da cidade
ORGANIZADORES: Daniela Adil Oliveira de Almeida, Fernanda Petrus, Luciana Correa do Lago e Heloisa Soares de Moura Costa
Esta sessão livre tem como objetivo apresentar e refletir sobre experiências urbanas de produção, distribuição e comercialização de alimentos saudáveis no Brasil orientadas por princípios da agroecologia. Tais experiências são desenvolvidas por movimentos sociais, associações e redes de produtores ou consumidores e são necessárias para a formação de sistemas agroalimentares intra e interurbanos, que integram necessidades humanas como alimentação saudável, moradia adequada, educação emancipadora e trabalho digno. A agricultura urbana é uma prática invisibilizada nas cidades e está associada ao processo de valorização da terra e luta pelo espaço, dominada pelos capitais fundiários e imobiliários. A agroecologia busca associar a pequena produção camponesa, familiar, popular, de povos e comunidades tradicionais ao universo das práticas e saberes de agricultora/es enraizados em seus territórios. A sessão também destaca a forte interface da agroecologia com os debates feministas, na medida em que as mulheres assumem um protagonismo particular na militância agroecológica, reforçando seu papel na produção de comida de verdade e na construção social de mercados em territórios urbanos, ao mesmo tempo em que lutam contra a opressão e violência sobre seus corpos e contra a injusta divisão sexual do trabalho. A agricultura urbana também pode ser considerada uma estratégia de resistência na disputa pelo acesso à terra urbana.Amazônia, territórios produzidos e paisagens reveladas Um diálogo entre as cidades de Manaus, Macapá e Belém
ORGANIZADORES: Taís Furtado Pontes, Louise Barbalho Pontes, Thales Barroso Miranda, Rodrigo Capelato e Gonzalo Renato Núñez Melgar
Esta proposta de sessão livre busca discutir as relações entre sociedade e natureza nas cidades da Amazônia brasileira, que são marcadas por uma diversidade de tempos sociais, populações e culturas. A região amazônica enfrenta vetores de poder externos que buscam explorar seus recursos naturais em nome do desenvolvimento capitalista, em detrimento do equilíbrio ecológico e da manutenção das tradições culturais e dos direitos dos povos originários. As grandes cidades da Amazônia se desenvolvem sobrepostas à matriz natural do bioma amazônico e às preexistências ancestrais, produzindo espaços que internalizam a miscigenação de diferentes povos e tempos, ora de forma agressiva, ora assumindo as condições da natureza. Essas paisagens trazem marcas de resistência social e cultural e de movimentos de territorialização, desterritorialização e reterritorialização, revelando contrastes e injustiças culturais e ambientais. A sessão livre propõe debater, à luz das diversas escalas temporais, espaciais e de valores, as paisagens das cidades de Manaus, Macapá e Belém, com o objetivo de articular distintas pesquisas e olhares sobre as cidades, que têm em comum o bioma amazônico, suas particularidades socioculturais e naturais. Serão discutidos processos de degradação ambiental e exclusão social, bem como possibilidades e territórios de resistência, como estratégias de morar e de conviver coletivamente. A reflexão sobre as relações sociedade-natureza e a subjetividade do observador frente ao território serão abordadas na perspectiva de entender as relações entre o objeto e a ação, a intencionalidade e as horizontalidades.Cartografias e contra-cartografias do Antropoceno: (re)posicionamentos frente ao novo regime climático
ORGANIZADORES: Eliana Rosa de Queiroz Barbosa, Yara Cristina Labronici Baiardi, Patrícia Capanema Álvares Fernandes, Mariana Galacini Bonadio e Bruno Amadei Machado
O início do século XXI foi marcado por discordâncias em relação à emergência climática cada vez mais arrebatadora. Carvalho e Matos (2021) afirmam que a política ontológica do Antropoceno é heterogênea porque mobiliza diferentes tecnologias e sociopolíticas. No entanto, as dissensões contemporâneas não se relacionam apenas com a crise climática, mas também com diferentes graus de radicalização política, religiosa e econômica, o que reitera e exacerbam as questões climáticas. O Antropoceno mobiliza diferentes temporalidades - passado, presente e diferentes visões de futuro - e produz um novo vocabulário, como Urbanoceno, Capitaloceno, Chthuluceno, tecnosfera e civilização termo fóssil. Essa teoria crítica do Antropoceno é aplicável à Arquitetura, Urbanismo e Planejamento Urbano e Regional Brasileiros, que apresentam soluções técnicas complicadas para problemas complexos e se baseiam em um aparato sofisticado de legislação e regulamentação, muitas vezes desconsiderando dinâmicas econômicas neoliberais e resistências socioculturais existentes nos territórios onde são aplicados. Em ambos os casos, os avanços pontuais resultantes da criação de soluções técnicas e propostas regulatórias são "atropelados pela avalanche material do movimento expansivo da sociedade capitalista" (SÁ BARRETO, 2020, p. 80). A COP 27, realizada no Egito em 2022, financiada por grandes indústrias poluidoras e com o país sede restringindo a liberdade de manifestação de sua população há décadas, mostrou os limites da mobilização técnica e política em relação ao novo regime climático. A indústria da construção civil é responsável pela produção e uso de materiais e pelo consumo de cerca de 50% de todos os recursos disponíveis no planeta. Além disso, é responsável por 25% de todo o lixo depositado e acumulado sobre a terra (CANÇADO, 2017). Apesar disso, continuamos planejando e projetando cidades que desconsideram os principais efeitos do novo regime climático, como ondas de calor extremo, estresse hídrico, elevação do nível do mar, insegurança alimentar global, degradação do habitat, entre outros.Cidade(s), justiça(s) e cultura(s) Experiências, expressões e artivismos
ORGANIZADORES: Leandro Gorsdorf, Giovanna Bonilha Milano, Thiago de Azevedo Pinheiro Hoshino, Mariana Galacini Bonadio e Julia Avila Franzoni
Esta sessão livre abordará a cidade como um espaço conflituoso que abriga encontros, festas, (re)produção social e sensibilidades. A arte e a cultura têm o potencial de ser veículos para a conquista do direito à cidade em múltiplas dimensões e de exercer formas de justiça social. Movimentos, coletivos e artistas provocam e tensionam novos espaços urbanos, explorando fissuras e heterotopias em oposição às normatividades da cidade neoliberal, racista, misógina, cisheteronormativa e colonial. A cultura e a arte agenciam rupturas e desmantelamentos dos sistemas jurídico-políticos e das instituições detentoras e produtoras do discurso oficial e oficioso sobre a história, a memória e os usos das cidades. Defende-se a aproximação entre vida, luta e arte, rompendo as dicotomias e demarcações canônicas entre artistas e não artistas. Propõe-se uma cartografia de intervenções que abrange manifestações, protestos, mobilizações comunitárias, projetos artísticos e até ocupações de prédios abandonados. A discussão se concentra em ocupações urbanas e suas configurações culturais, comunidades populares e seus saberes-fazeres e performances de artistas que questionam a cidade cisheteronormativa e outros dispositivos. O objetivo é identificar a insurgência de um modus operandi que dialoga com o direito à cidade, as reivindicações e organizações políticas e com a noção de justiça. As maneiras de falar dos espaços-tempos e de fazê-los falar se apresentam em regime de experimentação, em que a teoria e a linguagem são colocadas à prova para constituir espaços para viver, se apropriar e questionar os enquadramentos tradicionais sobre o urbano e a própria normatividade do vocabulário político acadêmico.Cidades ex-Cêntricas
ORGANIZADORES: Ana Fernandes, Heloisa Costa, Adriana Lima e Taynara do Vale Gomes Pinho
Esta sessão livre busca respostas para as adversidades e incertezas globais que desafiam atualmente a vida coletiva em cidades e territórios. Reconhece a necessidade de atualizar os modos ontoepistêmicos de operação dos estudos urbanos e regionais, trazendo a pluralidade de bordas, interfaces e zonas como categorias decisivas para essa construção. O termo "ex-cêntrico" refere-se a algo localizado fora do centro, mas que ainda é uma parte constituinte e ativa dele. A proposta concentra-se em territórios frequentemente negligenciados nos estudos urbanos convencionais. É um chamado para uma metodologia experimental multi-inter-transdisciplinar e inter-regional que identifica e aborda as injustiças socio-territoriais-ambientais e gera repertórios inventivos de recusa, criação e reconfiguração da existência urbana. A sessão tem como objetivo reposicionar diálogos e trocas, reconstruir legitimidade, ampliar e redistribuir práticas investigativas e colaborativas tanto geograficamente quanto ontoepistemologicamente. As ações da proposta são organizadas em torno de três tensões principais: a sistematização do pensamento crítico dissidente sobre a questão urbana, a exploração da pluralidade de realidades urbanas e territoriais e a construção de práticas transformadoras para a vida urbana. Aborda tanto a construção científica do conhecimento quanto a formulação de políticas públicas e sua implicação e conflito recíprocos com os modos de conhecimento, exercício de poder e sua derivação em ação social hierárquica.