Categorias:

Compartilhe

Sessão Especial “Extensão Universitária e Pesquisa: agenda única na Pós-graduação”

24/05/2023

No dia 24 de maio, às 10h30, ocorreu, no âmbito do XX ENANPUR, a Sessão Especial “Extensão Universitária e Pesquisa: agenda única na Pós-graduação”, com a participação de Luciana Lago (UFRJ), Rita Velloso (UFMG) e Daniele Caron (UFRGS), além da mediação de Jorge Bassani (FAU-USP).

O objetivo da mesa foi ampliar e aprofundar o debate sobre a aproximação entre universidade e a sociedade por meio da articulação dos mecanismos de extensão universitária e ensino de pós-graduação em planejamento urbano e regional.

Foto: Luca Porpino (UFPA).

A seguir, confira os principais pontos da mesa:

Em sua fala inicial, Jorge Bassani informou que a mesa é um desdobramento de uma atividade realizada no XI Seminário de Avaliação do Ensino, Pesquisa e Extensão em Estudos Urbanos e Regionais (SEPEPUR), que debateu as relações da universidade com a sociedade no âmbito da pós-graduação. Bassani apresentou algumas questões sobre o significado do termo “extensão”, a sua influencia na formação dos estudantes e a sua incorporação nos programas de pós-graduação. Segundo ele, dois pontos são fundamentais para o debate. O primeiro é que o trabalho de extensão possui particularidades no âmbito da pós que o diferem da graduação, como a participações propositivas dos estudantes, que fazem sugestões e proposições a partir de suas próprias pesquisas. O segundo ponto é trazer para a pós-graduação a ideia de que a extensão se configura um tipo especial de pesquisa, não se tratando de trabalho de campo ou coleta de dados, mas que é capaz de aprofundar problemas de pesquisa, a partir do diálogo com a sociedade.

Em seguida, Rita Velloso sintetizou em quatro pontos as transformações necessárias para implementar a extensão na pós-graduação. O primeiro deles é sobre os sujeitos de conhecimento que configuram o público-alvo dessas atividades e como estão sendo formados. O segundo ponto é revisar as políticas de pós-graduação, pensando nas redes de cooperação interinstitucional dos programas de pós e considerando territórios heterogêneos. O terceiro são os marcos teóricos contemporâneos e em construção no campo do Planejamento Urbano e Regional (PLUR). Por fim, o quarto ponto é inventariar e avaliar as experiências de extensão que são transformadoras nessa tríade ensino, pesquisa e extensão. Rita também destacou a experiência da UFMG, a partir das disciplinas de formação transversal. Esses cursos, cujos temas orientadores incluem acessibilidade, direitos humanos, gênero, saberes tradicionais, envolvem alunos de graduação e pós para desenvolverem a transdisciplinariedade, constituindo-se de disciplinas que atravessam diversos temas, não necessariamente convergindo entre si ou buscando respostas para as questões propostas. A pesquisadora finalizou reforçando a necessidade de se conhecer quem a universidade está se formando, os territórios da onde vem e como é possível dialogar com eles.

Na sequência, Luciana Lago comentou, a partir da sua experiência na UFRJ, sobre a dificuldade de se implementar a extensão na universidade. O conflito, segundo ela, foi explicitado a partir da curricularização da extensão pelo MEC, que deixou claro o conservadorismo na estrutura hierárquica da universidade e a resistência nas alterações dos currículos universitários. Essa resistência se expressa na própria definição de critérios sobre o que é extensão, adquirindo novas camadas quando se trata da concepção de extensão baseada em Paulo Freire. De acordo com Luciana, a concepção freireana de extensão emancipadora, na perspectiva do domínio territorial pela classe trabalhadora, enfrenta uma enorme resistência. O motivo, segundo ela, vem do questionamento provocado pela prática da troca dialógica nos territórios, que coloca em cheque os resultados das pesquisas acadêmicas. Mas ao invés de ser encarado como um processo que desestabiliza a pesquisa, Lago acredita que isso é justamente a potência da extensão freireana. Abordando a área de PLUR, a pesquisadora avalia que a extensão está concentrada em duas frentes: os cursos de extensão, geralmente para conselheiros e ONGs, e a Assistência Técnica de Habitação de Interesse Social (ATHIS), junto aos movimentos populares e associações de base. Para ela, é necessário ampliar as possibilidade de ação, como no caso do projeto LUTeS – Lutas Urbanas, Tecnologia e Saneamento, que trabalha com adolescentes de escolas públicas do Complexo da Maré (Rio de Janeiro) – a iniciativa recebeu menção honrosa nos Prêmios ANPUR 2023. Por fim, Luciana enfatizou que a extensão é necessariamente territorial e esse enraizamento no território faz da prática transdisciplinar, pois é onde todas as disciplinas são vividas e se vive a experiencia concreta.

A última apresentação, de Daniele Caron, resgatou alguns pontos da resolução do MEC sobre as diretrizes para a extensão na pós-graduação, de modo a refletir sobre essa prática. No contexto da UFRGS, a pesquisadora relatou o mesmo tipo de conflito mencionado por Luciana Lago, com a constituição de um Grupo de Trabalho para debater o tema, da mesma forma que o programa de pós-graduação encaminhou o debate, no âmbito do seu planejamento estratégico. Segundo Caron, o acolhimento da extensão na pós pode integrar as disciplinas, desmontar dicotomias e configurar uma plataforma de experiencias entre os pesquisadores para se articularem. Ela também destacou a importância de se vincular práticas extensionistas aos processos da pesquisa, já que o próprio uso da palavra é problemático no contexto do campo.

Antes de abrir para o debate, Jorge Bassani comentou sobre a questão de se colocar a população dos territórios enquanto objeto da pesquisa, existindo um problema inclusive do ponto de vista ético, mas que na perspectiva da extensão freireana eles não são objeto, mas sujeitos que participam dessa troca dialógica.

A presidente da ANPUR, Camila D’Ottaviano, pediu a palavra para comentar que a extensão não segue a mesma lógica da pesquisa nos processos de avaliação em Comitês de Ética, citando como exemplo o recolhimento de informações pessoais sobre as comunidades, fundamental nos processos de assessoria, mas que enfrentam barreiras na sua aprovação dos comitês. Outro ponto destacado por D’Ottaviano foi que a extensão só funcionará plenamente quando forem repensados os produtos, que não devem se limitar aos artigos, voltados exclusivamente para a academia. Por fim, a presidente destacou o esforço da ANPUR na divulgação e produção sobre extensão que resulta, por exemplo, na publicação dos livros “Além dos Muros da Universidade: Planejamento Urbano e Regional e Extensão Universitária” e “Planejamento urbano e regional: ensino pesquisa e extensão”.

Em seguida, a mesa teve diversas intervenções da plateia que compartilhou suas experiências e levantou pontos fundamentais para a discussão. A professora Olga Lucia Castreghini de Freitas-Firkowski frisou a atuação das agências de fomento e a importância de uma mudança de lógica nos editais de financiamento, para que os critérios de repercussão social da pesquisa sejam repensados. Em seguida, a pesquisadora Daniele Regina Pontes, do projeto PLANTEAR – Planejamento Territorial e Assessoria Popular, vencedor do I Prêmio ANPUR de Extensão Universitária (2023), falou sobre necessidade de se debater a atuação dos professores na extensão, pois diferente da pesquisa, ela exige um número grande de atividades em um período longo de tempo, inclusive com alto grau de comprometimento. Pontes também destacou a construção de laços, já que além da presença, é necessário entregar produtos adequados ao contexto da extensão, porém, isso é desconsiderado nos processos de avaliação dos programas de pós-graduação.

Outras intervenções, incluindo a da ex-presidente da ANPUR (1993-1995), Wrana Panizzi, abordaram a sistematização dos métodos na extensão, a construção de outras epistemes, o reconhecimento da identidade territorial, e a temporalidade das avaliações dos comitês de ética da universidade.

Foto: Luca Porpino (UFPA).

Foto: Jorge Bassani.