XXI ENANPUR: o urbanismo latino-americano e seus desafios nas cidades em transformação
20/05/2025
No dia 20 de maio de 2025, ocorreu durante o XXI ENANPUR, em Curitiba, a Mesa Redonda 4 – El urbanismo latinoamericano y sus retos en las ciudades en transformación: una perspectiva desde el Sur Global. A atividade reuniu representantes de associações de planejamento urbano e regional da Argentina, Colômbia, México e Brasil, com o objetivo de promover um intercâmbio de experiências, estratégias e desafios enfrentados pelas cidades latino-americanas em um contexto de transformações políticas, sociais e ambientais profundas.
A mediação foi feita por Letícia Gadens (UFPR), que também foi responsável por articular o encontro entre as associações convidadas:
- SAPLAT – Sociedad Argentina de Planificación Territorial (Argentina);
- ACIUR – Asociación Colombiana de Investigadores Urbano Regionales (Colômbia);
- ANPUD – Asociación Nacional de Instituciones de la Enseñanza de la Planeación Territorial, el Urbanismo y el Diseño Urbano (México); e
- ANPUR – Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (Brasil).
O pesquisador Juan Angel Demerutis, da ALEUP – Asociación Latinoamericana de Escuelas de Urbanismo y Planificación (México), também integrava originalmente a mesa, mas não pôde participar por motivos pessoais.
Abrindo a rodada de falas, Evelyn Abildgaard, da SAPLAT, apresentou a trajetória recente da associação argentina, criada em 2018, com uma composição federal e multidisciplinar. Ela destacou a preocupação com o futuro do planejamento territorial no país, especialmente diante do cenário de desmonte institucional promovido pelo atual governo argentino, como a extinção de secretarias e a recusa em aderir ao Pacto do Futuro da ONU. Para Evelyn, é fundamental reforçar a cooperação interinstitucional para garantir a incidência nas políticas públicas territoriais a partir de uma perspectiva de direitos.
Representando a ANPUD, Enrique Sotto Alva relatou o crescimento da atuação da associação junto a estudantes e universidades, e os esforços para consolidar o campo do urbanismo no México. Ele abordou o desafio da informalidade habitacional, que atinge cerca de 65% das moradias no país, além da desconexão entre a política habitacional e a realidade da demanda por moradia. Sotto também destacou os efeitos da expansão urbana e da especulação imobiliária nas 350 cidades que compõem o sistema urbano mexicano.
Da Colômbia, Thierry Lulle, da ACIUR, traçou um panorama histórico da associação, fundada em 1993 com o propósito de promover redes de conhecimento e subsidiar a tomada de decisão sobre políticas urbanas e regionais. Ele sublinhou os desafios territoriais do país, como a financeirização das cidades, as mudanças climáticas e a segregação socioespacial. Thierry também alertou para a crise das universidades, o esvaziamento institucional e a necessidade de articulação com outras redes da região.
Fechando a mesa, José Júlio Ferreira Lima, presidente da ANPUR, apresentou a trajetória da associação brasileira, criada em 1983, e hoje composta por 70 programas de pós-graduação de todas as regiões do país. Ele destacou o protagonismo da ANPUR na produção de conhecimento sobre planejamento urbano e regional e ressaltou os desafios enfrentados pelas cidades brasileiras, como o avanço da urbanização informal, os impactos de grandes obras e desastres ambientais, e as desigualdades regionais. José Júlio defendeu o fortalecimento da colaboração entre instituições latino-americanas como forma de ampliar a circulação de saberes e construir uma agenda comum de pesquisa e ação.
A sessão foi seguida por perguntas da plateia e comentários dos palestrantes, que reforçaram a urgência de abordar temas como o narcotráfico e os vazios urbanos em contextos de desigualdade e financeirização. A mesa deixou evidente que, apesar das especificidades nacionais, os países latino-americanos compartilham desafios estruturais e a convicção de que o intercâmbio acadêmico e institucional é essencial para enfrentá-los a partir de uma perspectiva crítica e situada no Sul Global.
Como desdobramento dessa iniciativa, articulada pela profa. Letícia Gadens, serão realizadas mais duas reuniões durante o XXI ENANPUR: a primeira com o mesmo grupo que compôs a mesa redonda, com o objetivo de estabelecer uma agenda de articulação com vistas a uma rede futura, e a segunda entre estudantes de pós-graduação, também com vistas essa aproximação latino-americana.
