À medida que o ano termina, refletimos sobre alguns acontecimentos marcantes de 2024 pelos quais ficou mais evidente a importância do campo dos Estudos Urbanos e Regionais para compreender a sociedade brasileira contemporânea. Em um período desafiador, atravessado por uma greve de quase 100 dias de docentes e técnicos das principais universidades federais do país, o fortalecimento das pesquisas em Estudos Urbanos e Regionais aponta caminhos para desnudar correlações entre a utilização desregrada da terra urbana e rural e as tragédias sociais que o país presenciou nos últimos meses.
Nos referimos primeiramente à catástrofe climática de Porto Alegre e à culminância na resolução do crime que vitimou a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e seu motorista Anderson Gomes. Ao nos referirmos a esses acontecimentos aparentemente díspares, vislumbramos situações em que a vida humana e a posse do território estão submetidas a disputas por ganhos políticos e financeiros. As enchentes dos rios e inundações em Porto Alegre decorrem de um conjunto de medidas institucionais de cunho econômico que desconsideraram a capacidade de exploração da natureza pela ocupação urbana. Já a associação entre ganhos imobiliários, especuladores, criminosos e políticos foi revelada como possivelmente o principal motivo para a barbárie que aconteceu na cidade do Rio de Janeiro, em 14 de março de 2018.
Também vimos, por meio da liberação dos dados do Censo 2022 pelo IBGE, o que é o Brasil da última década. Embora tardia, a alteração da denominação de favelas para comunidades urbanas para a sistematização de dados que dão conta do acúmulo histórico de precariedade nas cidades brasileiras é digna de nota. Na sequência, os dados que foram anunciados são de fundamental importância para a mobilização das comunidades em torno da construção de políticas públicas que possam enfrentar a crise das cidades e promover um desenvolvimento urbano e regional socialmente mais justo e sustentável, invertendo ciclos perversos de manutenção de privilégios por meio de políticas de habitação, regularização fundiária, mobilidade e saneamento ambiental, incorporando as novas temáticas da adaptação climática, das novas tecnologias e da segurança pública.
No âmbito da ANPUR, reafirmamos a importância que foi a realização do SEPEPUR em Brasília, no mês de maio, assim como do ERCIPUR, que reuniu representantes de 10 revistas científicas da área. Destacamos também a continuidade no processo de alto nível científico que a RBEUR alcançou no ano por meio do trabalho de seus editores e do compromisso dos revisores qualificados. Outro destaque é o investimento em nossos canais de comunicação, com atualizações sistemáticas do site, que contabilizou quase 30 mil visitantes em 2024, das redes sociais, onde mais de 7 mil pessoas nos seguem no Instagram e Facebook, e do YouTube, com quase 1 mil inscritos no canal, além do próprio boletim, que completa 30 edições neste novo formato, lançado em julho de 2022.
Enaltecemos, ainda, os primeiros números que se têm conhecimento do próximo ENANPUR: foram submetidos mais de 1.200 trabalhos. Nossos mais sinceros agradecimentos a todos da comissão de organização, estamos certos do sucesso que será o XXI ENANPUR Curitiba 2025.
Apesar dos "pesares", sejamos otimistas para o futuro, que a ciência continue sendo uma força propulsora de inovação e esperança, na direção de um mundo mais justo, sustentável e integrado.
Saudações Anpurianas,
José Júlio Ferreira Lima e Raul da Silva Ventura Neto - Presidente e Secretário Executivo | Gestão 2023-2025 |