Carta de repúdio ao racismo sofrido por pesquisadoras negras em Curitiba
29/05/2025
É com profunda indignação e firmeza ética que tornamos pública nossa denúncia e repúdio ao ato racista cometido por um motorista de aplicativo da plataforma Uber contra a integridade física de duas integrantes do nosso grupo de pesquisadores e pesquisadoras negras que participaram do XXI ENANPUR, ocorrido em Curitiba (PR), cidade com um profundo processo de apagamento da população negra.
Nossas companheiras foram alvo de constrangimento, tratamento discriminatório e evidente recusa de atendimento, ferindo não apenas sua dignidade individual, mas também ameaçando sua integridade física. Enquanto adentravam o carro, o motorista, ao ver que as passageiras eram negras, as expulsou do veiculo e o colocou bruscamente em movimento.
O episódio — mais um entre tantos que se repetem cotidianamente — não é um caso isolado, mas expressão cruel e estruturante de um racismo institucional que insiste em submeter corpos negros à violência, à suspeição e à desumanização.
Ao negarmos silêncio e neutralidade diante deste ocorrido, reafirmamos nosso compromisso coletivo com a luta antirracista e com a memória de todas as vozes negras que foram historicamente silenciadas. Ser pesquisadora negra neste país é resistir todos os dias às estruturas que tentam apagar nossas presenças dos espaços de produção de saber, de circulação e de cidadania plena. É inaceitável que plataformas como a Uber, que lucram com a mobilidade urbana, permitam que condutas discriminatórias se perpetuem sem responsabilização concreta e política de reparação.
A dor e o constrangimento vividos pelas companheiras não serão naturalizados. Nós, que somos herdeiros e herdeiras de quilombos, resistências e saberes ancestrais, não aceitaremos mais que a cidade nos seja negada. Reivindicamos o direito de ir e vir com segurança, o direito à dignidade, o direito à vida. Que esta carta sirva de denúncia, mas também de chamado coletivo à justiça e à ação. Não nos calaremos. Enquanto houver racismo, haverá luta.
Diante disso, solicitamos aos filiados da ANPUR que:
- Expressem solidariedade as pesquisadoras em relação ao ocorrido;
- Reafirmem o compromisso da entidade com a luta antirracista, e com a promoção de debates que visem o acesso e permanência de pesquisadoras/es negras/os nesses espaços de discussão do planejamento urbano;
- Publicizem essa carta e encaminhem a entidades parceiras, nacionais e internacionais, como gesto de solidariedade e posicionamento político.
Curitiba, 23 de maio de 2025.
Rede Negra de Planejamento Urbano e Regional
